“Há uma série muito antiga de Isaac Asimov – os romances da Fundação – na qual os cientistas sociais entendem a verdadeira dinâmica da civilização e a salva. Isso é o que eu queria ser. E isso não existe, mas a economia é o mais próximo que se pode chegar. Então, como eu era um adolescente, embarquei nessa.” Paul Krugman
Essas são as palavras de ninguém menos ninguém mais que um dos mais renomados pesquisadores/estudiosos da atualidade, além de ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2008. Não é a toa essa frase e essas referências. Isaac Asimov muito provavelmente ficaria lisonjeado com essa citação, principalmente pelo modo como Krugman define a Psicohistória em uma única frase. A trilogia da Fundação é de tamanha importância no contexto da ficção (não só na científica) tendo em 1966 sido eleita como a melhor série de ficção científica e fantasia no Hugo Awards, vale ressaltar que um dos concorrentes diretos era a trilogia “O senhor dos Anéis”.
Tratar as ciências humanas com desdém é como renegar uma ferramenta de análise capaz de nos fazer compreender sobre nós mesmos e nossos pares. Essa frase soa como algo que poderia ser dito pelo próprio Isaac Asimov, que ao contrário do que muitos pensam, tinha um grande interesse por História, Sociologia, Antropologia e principalmente a dupla Filosofia e Psicologia. Apesar de ser um professor de Bioquímica e ter escrito textos acadêmicos no campo das chamadas “ciências duras”, fica clara essa admiração quando lê-se a trilogia “Fundação”, considerada a principal obra de sua produção, compondo um dos três principais pilares da sua bibliografia ficcional (Série Robôs, Série Império e Série Fundação).
Logo no começo da obra é apresentada uma ciência chamada de Psicohistória, que consiste, a priori, de uma junção da sociologia com história e psicologia, tratadas a partir de equações estatísticas. O intuito dessa ciência seria prever os rumos que a sociedade irá tomar, porém sem poder prever o desenvolvimento de um único indivíduou, apenas a massa. Claramente uma mudança de causa inesperada (a explosão de um vulcão ou um maremoto, por exemplo) ou uma alteração intencional fará com que o rumo previsto torne-se inválido. É justamente em função desta segunda falha que a sociedade não pode saber os resultados das contas.
O desenrolar da obra é muito mais intenso e complexo, se é que pode ser possível. Tendo em vista a derrocada do império intergalático o Dr Hari Seldon organiza uma imensa comitiva que será mandada para um planeta distante no qual serão responsáveis por compilar todo o conhecimento humano. A comitiva é composta por gênios de diversas áreas do conhecimento, e a obra final se chamará Enciclopédia Galática. Para vocês verem o impacto da obra, Douglas Adams, que atualmente é mais famoso por causa do filme “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, tem referências descaradas à Asimov, a principal dela é a piada sobre a versatilidade do guia frente a enciclopédia galática.
Desculpem a falta de uma versão dublada ou legendada. Não consegui achar o clipe.
A psicohistória tem uma ciência correlata no mundo real, a chamada cliodinâmica. A idéia difere apenas em alguns quesitos, porém a prática ainda é muito pré matura. Claro que isso é consequência também da estatística e da sociologia , além da criação da interconexão real de ambas as ciências.
O interessante de se pensar que essa seria uma ciência real, não só no desenvolvimento teórico, como é hoje, mas também na praxis, nos abre um campo de análise muito novo. É justamente por isso que estamos nos dispondo a brincar com esse conceito aqui no Quadrinheiros. Foi colocado o termo “brincar” justamente por não termos intenções concretas ou que realizaremos pesquisas de fundo para criar um modelo matemático, mas sim usaremos de conceitos e embasamentos históricos, filosóficos, sociológicos e quiçá da psicologia.
Não queremos focar na história, mas sim no mundo dos quadrinhos como um todo. Vamos ver o que vai sair disso!
Para quem não conhece a genialidade do Bom Doutor, apelido que é comumente utilizado para referenciar Asimov, vale a leitura de dois textos: o primeiro é um trecho de sua autobiografia na qual fala sobre a inteligência; o segundo é o conto mais interessante dele que já li até hoje, falando a sua visão da tão famigerada pergunta “Qual o sentido da vida, o universo e tudo mais?”.
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